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Flávio Figueiredo Assis / Picape Campo - Divulgação |
A proposta, que mistura ousadia, inovação e risco, vem atraindo atenção pela promessa de revolucionar a mobilidade no país e abrir espaço para um novo capítulo da indústria automobilística brasileira.
A estratégia da Lecar: carros híbridos com DNA nacional
De acordo com a entrevista, a Lecar pretende lançar dois modelos no mercado já no próximo ano:
- O cupê 459, que será o primeiro carro da marca;
- A picape Campo, que combina motor flex (etanol ou gasolina) para geração de energia elétrica com tração totalmente elétrica.
A ideia é unir a tradição brasileira no uso do etanol a um modelo de propulsão inovador. O resultado, segundo o empresário, seria uma autonomia de até 1.000 km por abastecimento, patamar competitivo frente a elétricos e híbridos de gigantes internacionais.
Outro diferencial apontado é a nacionalização da produção. A Lecar afirma que 85% das peças serão de origem brasileira, com fornecedores como WEG (geradores), Horse (Renault/Geely, motores flex), Randon (carrocerias), Maxion Wheels (rodas), Pirelli (pneus) e couro da JBS para os estofados.
O fundo bilionário e os planos para a fábrica no Espírito Santo
Um dos pontos mais ousados do projeto é o financiamento. Flávio revelou que a Lecar prepara um fundo de investimentos de até US$ 1 bilhão, que estaria em fase final de estruturação. O montante seria utilizado para erguer a fábrica em Sooretama (ES), cujo lançamento da pedra fundamental está previsto já para o próximo mês, e para financiar a expansão global.
O investimento inicial é estimado em R$ 840 milhões, com recursos totais de operação previstos em R$ 5,4 bilhões. Segundo o empresário, a captação será feita por meio de recursos próprios, bancos parceiros e, principalmente, investidores privados. O Banco ABC foi citado como possível parceiro, embora ainda não haja confirmação oficial.
Mercado: reservas antecipadas e aposta no público brasileiro
Outro dado que chama atenção é a suposta aceitação do mercado. A Lecar afirma ter mais de 5 mil reservas já realizadas, inicialmente com entrada simbólica de R$ 1.593, mas que hoje custa R$ 9 mil e deve chegar a R$ 30 mil durante o Salão do Automóvel de São Paulo, marcado para novembro de 2025.
Essa estratégia de pré-vendas antes da produção lembra a ousadia de Elon Musk com a Tesla, mas também traz riscos. No Brasil, a prática remete à experiência da Gurgel, pioneira nacional que sofreu com dificuldades financeiras e falta de apoio do mercado.
O que está em jogo: oportunidade ou ilusão?
A análise do projeto da Lecar divide opiniões.
Pontos positivos:
- Aposta na inovação adaptada ao Brasil, com etanol como protagonista;
- Fortalecimento da indústria nacional, com ampla rede de fornecedores locais;
- Marketing estratégico, ao se autoproclamar “Elon Musk brasileiro” e atrair a atenção da mídia e do público;
- Interesse inicial comprovado com milhares de reservas já feitas.
Desafios e riscos:
- O projeto ainda é embrionário, sem protótipos funcionais prontos para o mercado;
- O fundo de US$ 1 bilhão é uma promessa ambiciosa, mas não há garantias de captação efetiva;
- A meta de produção em larga escala impõe desafios logísticos e tecnológicos significativos;
- O histórico de montadoras independentes no Brasil, como a Gurgel, serve como alerta.
Ideia ousada, desafios gigantes
A entrevista de Flávio Figueiredo Assis ao AgFeed coloca a Lecar sob os holofotes como uma promessa ousada para o setor automotivo brasileiro. A ideia de unir etanol, tecnologia híbrida, produção nacional e captação internacional é sedutora e pode, de fato, abrir caminho para uma revolução.
Por outro lado, a distância entre o discurso e a execução é enorme. A fábrica ainda não saiu do papel, os veículos não passaram da fase de projeto, e a viabilidade do fundo bilionário continua incerta.
Em tempo:
O “Elon Musk brasileiro” aposta na ousadia para conquistar mercado e investidores. Se o projeto vingar, o Brasil pode testemunhar o nascimento de uma nova potência automotiva. Mas, se fracassar, a Lecar corre o risco de se tornar apenas mais um capítulo de promessas não cumpridas na história da indústria nacional.