Os anos 90 foram uma década de grandes transformações no mercado automobilístico brasileiro, com a abertura das importações e o surgimento de carros populares modernizados, o Auto ND1 vai te levar para mergulhar agora nessa era de ouro dos carros mais amados dos brasileiros de todos os tempos.
Embora listas exatas de vendas acumuladas por décadas sejam difíceis de encontrar de forma consolidada e oficial para o top 10 completo, o Volkswagen Gol foi, sem dúvida, o carro mais vendido da década de 90 no Brasil, solidificando sua liderança histórica.
1º Fenômeno de Vendas da Década de 90 - Gol
O Volkswagen Gol não foi apenas um carro popular nos anos 90, ele foi o fenômeno de vendas que cimentou sua lenda como o carro mais vendido da história do Brasil. A década foi um marco para o modelo, que passou por uma das mais importantes transformações de sua vida: a mudança do visual "quadrado" para o famoso "bolinha".
A Transição: Do Quadrado ao "Bolinha"
A década de 90 começou com o Gol em sua já consolidada primeira geração (G1), conhecida popularmente como Gol Quadrado. Mesmo com o projeto original da década de 80, ele se manteve forte no mercado graças à sua robustez, confiabilidade mecânica e baixo custo de manutenção. Versões como a Gol GTi (com injeção eletrônica, uma raridade na época) elevavam o patamar do modelo no segmento esportivo.
O Ponto de Virada: O Gol "Bolinha" (G2)
Em 1994, tudo mudou com o lançamento da segunda geração (G2), imediatamente apelidada de Gol "Bolinha" devido às suas formas arredondadas e modernas.
- Design Revolucionário: O G2 representou um salto gigantesco em relação ao seu antecessor. Ele era maior, mais aerodinâmico e alinhado com o design global da VW, quebrando o padrão quadrado que dominava o mercado brasileiro.
- Novas Versões: O G2 trouxe versões de sucesso como a Cl (popular) e a GLi/GTi, além de variantes como o Gol TSi (com apelo esportivo mais leve).
Curiosidades e Fatos Importantes da Década
1. O Carro do Novo Motor (AP e AE)
O Gol nos anos 90 se beneficiava de duas famílias de motores:
- Motor AP (Alta Performance): Este motor, um dos mais reverenciados do Brasil, equipava as versões mais potentes e confiáveis, sendo sinônimo de desempenho e durabilidade.
- Motor AE (CHT): Resultado de um acordo Ford-VW (Autolatina), equipou as versões de entrada (como o Gol 1000) até a substituição.
Em homenagem à Copa do Mundo dos EUA, a VW lançou o Gol Copa no ano do lançamento do Gol Bolinha. Era uma série especial com itens visuais exclusivos, marcando a transição de gerações.
3. O Gol 1000: O Popular Moderno
Com a redução do IPI para carros com motores de até 1.0 litro no início da década, o Gol lançou o Gol 1000. Embora fosse espartano, ele acelerou a popularização do carro novo no Brasil e manteve o Gol no topo das vendas.
4. O Fim do Motor Refrigerado a Ar
Apesar de a primeira geração ter nascido com motor refrigerado a ar, na década de 90 o Gol já estava plenamente adaptado aos motores refrigerados a água, consolidando essa tecnologia no mercado de populares.
Por Que Foi o Mais Vendido?
A liderança absoluta do Gol na década de 90 pode ser resumida em:
- Robustez e Peças Fáceis: Sua mecânica era simples, forte e as peças de reposição eram abundantes e baratas em qualquer lugar do país.
- Versatilidade de Uso: O Gol atendia desde o consumidor que buscava um carro popular e econômico (Gol 1000) até o entusiasta de esportivos (Gol GTi).
- Valor de Revenda: Sua popularidade garantia um altíssimo valor de revenda e liquidez, tornando-o um investimento seguro.
- Timing Perfeito: A chegada do Gol Bolinha (G2) em 1994, com seu design muito superior aos concorrentes da época, garantiu uma onda de popularidade exatamente no meio da década, assegurando a vitória em vendas.
O Gol não só dominou a década de 90 como usou esse período para se firmar como o carro que mais tempo reinou na história da indústria automotiva brasileira.
2º Fiat Uno um ícone dos Populares no Brasil
O Fiat Uno entrou na década de 90 como um veterano e saiu como um ícone renovado. Enquanto o Gol revolucionava o design, o Uno apostava na funcionalidade, na economia e, principalmente, no seu legado de simplicidade e resistência, garantindo o segundo lugar frequente nas tabelas de vendas e mantendo a Fiat entre as potências do mercado.
A Estratégia dos Anos 90: O Nascimento do Mille
O grande trunfo do Uno na década foi a criação da linha Mille. Em resposta aos incentivos fiscais para motores 1.0, o Uno recebeu uma série de modificações focadas em custo e eficiência:
- O Uno Mille Eletronic: Foi um dos primeiros a incorporar o motor 1.0 (o "popular") com injeção eletrônica monoponto (Single Point Injection - SPI), tecnologia que ajudava a reduzir o consumo e melhorar o funcionamento em comparação aos carburadores, algo essencial para um carro de entrada.
- O Mille Brio e EP: Versões que mantiveram o foco no preço baixo, mas que gradualmente incorporaram um visual mais moderno, preparando o Uno para conviver com o recém-chegado Palio (lançado em 1996).
A Magia da "Caixa de Sapatos"
O design do Uno, muitas vezes comparado a uma "caixa de sapatos", foi o que garantiu uma de suas maiores vantagens: o aproveitamento interno do espaço. Apesar de pequeno por fora, sua altura e o formato retilíneo ofereciam um espaço surpreendente para os passageiros e uma área de carga eficiente no porta-malas, superando muitos concorrentes de dimensões externas semelhantes.
Curiosidades e Fatos Inéditos da Década
1. Uno Turbo i.e. (O Canhão Italiano)
O Uno teve sua fase de alto desempenho nos anos 90. O Uno Turbo i.e. foi um dos carros nacionais mais rápidos da época. Equipado com um motor 1.4L turbo e injeção eletrônica multiponto, ele superava os 180 km/h e tinha um visual agressivo (aerofólios, entradas de ar) que o diferenciava completamente da versão Mille.
2. O Teto Alto e a Economia de Combustível
O Uno foi pioneiro em ser reconhecido como um dos veículos mais econômicos do país, uma característica que a Fiat sempre explorou em suas campanhas. Seu peso baixo, aliado à mecânica simples e aos motores pequenos (principalmente o 1.0), fez dele o queridinho dos frotistas e de quem buscava o máximo de quilometragem por litro de combustível.
3. A Suspensão Robusta (e Alta)
A suspensão do Uno era notoriamente resistente e elevada em comparação aos concorrentes europeus. Essa característica foi um diferencial enorme para as condições de rodagem e pavimentação do Brasil, que exigiam carros que "aguentassem o tranco". Por isso, era o veículo preferido para entregas e uso em regiões rurais ou de estradas de terra.
4. O "Estepe no Motor" (A Herança Própria)
Um fato curioso das primeiras versões, que persistiu no início da década, era a posição do pneu estepe no compartimento do motor. Essa solução permitia um porta-malas de volume maior, sacrificando apenas um pouco de acesso no momento de manutenção do motor, um truque de engenharia que sublinhava a prioridade do espaço interno.
O Segredo do Sucesso
O Uno se manteve no topo das vendas por ser o antônimo complementar do Gol. Se o Gol era o carro do design moderno e do motor AP potente, o Uno era o carro da inteligência de espaço, da economia imbatível e do custo-benefício inegável. A chegada do Palio não o aposentou, mas o reposicionou para se tornar o veículo de entrada definitivo, garantindo sua longevidade na década e bem além dela.
3º Chevrolet Corsa Um dos Queridinhos dos Anos 90
O Chevrolet Corsa chegou ao Brasil em 1994 e representou um marco. Ele não era uma evolução de um modelo nacional antigo, mas sim a adaptação de um projeto Opel (General Motors Europa) moderno, trazendo um novo padrão de design, acabamento e segurança para o segmento de carros populares no Brasil. O Corsa foi a principal arma da Chevrolet para desafiar a hegemonia do Gol e do Uno.
O Salto de Geração: Design "Bio-Design"
O Corsa rompeu com o visual retilíneo dos seus concorrentes diretos (Gol e Uno em suas versões anteriores). Seu design era totalmente inspirado no conceito "Bio-Design", com formas arredondadas, faróis envolventes e uma cabine mais harmoniosa.
- Modernidade Imediata: A diferença estética era tão grande que, de imediato, o Corsa fez com que os concorrentes parecessem desatualizados, especialmente o Gol quadrado e o Uno ainda em linhas retas.
- A Família Corsa: Diferente do Gol e do Uno, que já tinham derivadas, a GM lançou rapidamente uma família completa baseada no Corsa: o hatch de 3 e 5 portas, a picape Corsa Pick-up, o sedã Corsa Classic (posteriormente apenas Classic) e a perua Corsa Wagon.
Curiosidades e Fatos Inéditos da Década
1. O Pioneirismo do 1.0 MPFI
Enquanto os concorrentes usavam a injeção monoponto (SPI) ou carburadores nas versões de entrada, o Corsa inovou ao trazer o motor 1.0 de 16 válvulas e, posteriormente, a injeção multiponto (MPFI) para os carros populares.
- 1.0 16V: Embora polêmico por sua manutenção mais complexa, foi um dos primeiros motores 1.0 a entregar uma potência considerável (cerca de 68 cv), elevando o padrão de desempenho do segmento.
- MPFI: A injeção multiponto em um carro popular, antes restrita a modelos de luxo ou esportivos, garantiu uma melhor queima de combustível, menos emissões e uma dirigibilidade mais suave.
2. O Corsa GSI: O Primeiro Hatch "Quente" 16V
O topo de linha do Corsa na década era o Corsa GSI. Ele não era turbo como o Uno, mas usava um motor 1.6 de 16 válvulas, entregando 108 cavalos de potência. Foi o primeiro hatch popular brasileiro a usar essa configuração de motorização de alto desempenho e foi um dos carros mais desejados pela juventude da época.
3. Itens de Série Inéditos
A inspiração europeia fez o Corsa oferecer de série ou como opcionais itens incomuns para a categoria em 1994:
- Airbag: O Corsa foi um dos primeiros carros populares a oferecer airbag de motorista como opcional, uma novidade em segurança passiva no segmento.
- Acabamento Aprimorado: O interior era mais sofisticado, com painéis mais bem desenhados e plásticos de qualidade superior, elevando a percepção de valor do carro popular.
Por Que Foi um Sucesso de Vendas?
O Corsa conquistou seu lugar no pódio de vendas por:
- Tecnologia Acessível: Trouxe inovações de motores (MPFI, 16V) e segurança (Airbag opcional) a um preço competitivo para a época.
- Apoio da Rede GM: Beneficiou-se da vasta e eficiente rede de concessionárias e assistência técnica da Chevrolet no Brasil.
- Visual Moderno: Foi o primeiro a ditar a tendência de design arredondado, tornando-se o objeto de desejo da classe média em busca de um carro novo e com aparência atualizada, pressionando seus concorrentes a se renovarem.
4º Fiat Palio Aquele Que Destronou o Gol
O Fiat Palio foi a resposta definitiva da Fiat à liderança de mercado do Volkswagen Gol. Lançado em 1996, ele não veio para substituir o Uno (que continuou firme como modelo de entrada), mas sim para competir no andar de cima, sendo um carro global que trouxe à tona o conceito de Plataforma Mundial da Fiat. Seu objetivo era ser o carro popular com ares de importado.
A Nova Arquitetura Global e Modular
Diferentemente dos concorrentes, que eram projetos mais antigos ou adaptações pontuais, o Palio nasceu como um projeto totalmente novo (o "Projeto 178") desenvolvido para ser vendido em diversos países. Isso trouxe benefícios de engenharia e produção:
- Modularidade: O Palio foi a base para uma família completa de veículos desde o seu lançamento, com o hatch, o sedã (Siena), a perua (Palio Weekend) e a picape (Strada) sendo lançados quase simultaneamente. Essa estratégia maximizou a eficiência da linha de produção.
- Carroceria Mais Rígida: O projeto recente garantiu uma carroceria mais moderna e mais rígida em relação aos modelos da época, o que se traduziu em melhor dirigibilidade e segurança passiva.
Curiosidades e Fatos Inéditos da Década
1. O Palio Young e a Estratégia de Versões
O Palio foi um mestre em estratégias de versões para cobrir diferentes faixas de preço e público.
- "Young": No final da década, a Fiat lançou o Palio Young com uma proposta de design simplificado e preço reduzido, posicionando-o um degrau abaixo do Palio tradicional para competir com o Gol Special e o Uno Mille.
- "CityMatic": A Fiat introduziu no Palio o câmbio CityMatic (um semiautomático com embreagem eletrônica), uma ousadia tecnológica inédita para um carro popular na época, embora não tenha tido grande aceitação inicial.
2. Motores F.I.R.E. (Fully Integrated Robotized Engine)
O Palio foi o carro que popularizou a adoção da família de motores FIRE (apesar de ter começado a década com os motores Fiasa). Os motores FIRE eram notáveis por serem mais leves, mais compactos e construídos de forma mais eficiente (muitas vezes, robotizada), o que os tornava ideais para as demandas de consumo e emissões do final da década.
3. O Palio 16V: Potência e Consumo Balanceados
Se o Gol e o Corsa tinham suas versões 16V, o Palio 16V se destacou por oferecer um bom equilíbrio entre potência e consumo no motor 1.6, sendo uma opção popular para quem buscava um desempenho superior sem abrir mão da economia no uso diário.
4. Design Italiano e Cores Vibrantes
O Palio, com seu toque de design italiano (assinado por Giorgetto Giugiaro), se destacou pelas suas linhas mais suaves e fluidas que o Gol e Corsa. A Fiat também investiu em cores mais alegres e vibrantes para o Palio em comparação com o tradicionalismo dos concorrentes, mirando um público mais jovem e urbano.
O Segredo do Seu Impacto no Mercado
O sucesso do Palio na década de 90 veio de sua capacidade de ser um "pacote completo". Ele ofereceu um design moderno, uma família de veículos completa (hatch, sedã, perua, picape) e uma qualidade construtiva que o colocava como um produto superior ao Gol G1 e G2 e um competidor direto do Corsa. O Palio não apenas vendeu muito, mas forçou a Volkswagen a investir pesadamente na manutenção da liderança de seu Gol.
5º Ford Escort o Divisor de Águas da Ford no Brasil
O Ford Escort na década de 90 representou um período de transição e parcerias estratégicas no Brasil. Produto da joint venture Autolatina (a união da Ford e Volkswagen no Brasil e Argentina), o Escort usou a década para evoluir de um modelo familiar tradicional para um hatch com forte apelo de dirigibilidade e esportividade nas suas versões de topo.
A Herança da Autolatina e a Mecânica Compartilhada
O fator mais definidor do Escort no início dos anos 90 foi sua mecânica compartilhada com a Volkswagen (o resultado da Autolatina).
- Motores VW AP: As versões mais vendidas e robustas do Escort (e seu derivado sedã, o Verona) utilizavam o consagrado motor VW AP (Alta Performance). Isso garantia ao Ford excelente desempenho e confiabilidade mecânica, características muito valorizadas pelos consumidores brasileiros.
- O Escort Hobby: No segmento de entrada, o Escort teve o Hobby, uma versão simplificada do modelo anterior (o Escort de 1983-1992), relançada para competir no segmento de carros populares 1.0, buscando volume de vendas com um carro de projeto mais antigo, mas já adaptado ao mercado.
A Chegada da Nova Geração (1997)
Em 1997, a Ford encerrou a fase Autolatina e lançou a nova geração do Escort, totalmente baseada no projeto europeu, que finalmente introduziu a família de motores Zetec no Brasil. Esses novos motores de 16 válvulas eram mais eficientes e modernos, alinhando o Escort com as tendências europeias, marcando a sua independência mecânica da VW.
Curiosidades e Fatos Inéditos da Década
1. Escort XR3: O Sonho Esportivo do Início da Década
A versão XR3 do Escort foi um ícone de esportividade no começo dos anos 90. Diferente de hatches mais compactos, o XR3 oferecia um equilíbrio entre performance e conforto, com destaque para a versão conversível, que era um dos poucos carros de capota removível fabricados nacionalmente e acessíveis ao consumidor. Era um símbolo de status e lazer.
2. O Uso Inovador do Vidro Traseiro
Na geração anterior ao "bolinha" (o Escort de 1993-1996), o modelo apresentava um vidro traseiro maior do que os concorrentes, que se estendia quase até o teto. Essa solução, que visava melhorar a visibilidade, lhe deu uma aparência bem distinta na época.
3. O Fim da Autolatina e o Renascimento da Marca
A transição do Escort AP (com mecânica VW) para o Escort Zetec (com mecânica própria Ford) simboliza o fim da Autolatina em 1996. A nova geração de 1997 foi a responsável por restabelecer a identidade de engenharia da Ford no Brasil, com projetos globais mais alinhados com a matriz.
4. O Escort SW (Perua)
A nova geração de 1997 trouxe a perua Escort SW, um modelo que se destacou por ter um porta-malas muito amplo e uma linha de teto alta, sendo um dos favoritos entre as famílias que precisavam de espaço e não queriam um sedã (como o primo Verona/Logus).
O Segredo de Suas Vendas
O Escort se manteve entre os mais vendidos na primeira metade dos anos 90 por oferecer a confiança dos motores VW AP em um pacote Ford que era visto como ligeiramente mais sofisticado que o Gol. Já no final da década, ele foi fundamental para a Ford se reafirmar no mercado, trazendo uma nova geração que competia em tecnologia e design com os modelos recém-lançados da Fiat e Chevrolet.
6º Fusca Um Pequeno Gigante Relançado nos Anos 90
O Volkswagen Fusca nos anos 90 é uma história de retorno inesperado e apelo emocional. Ele não estava na vanguarda tecnológica como seus concorrentes, mas voltou ao mercado brasileiro em 1993 por um pedido direto do então presidente da República, Itamar Franco. Sua curta, mas intensa, segunda vida na década o transformou no símbolo da política de incentivo aos carros populares.
A Ressurreição e a Simplicidade Extrema
O Fusca ressurgiu no mercado sob o lema "o carro do povo de novo". A Volkswagen o relançou mantendo a mecânica original a ar e a carroceria clássica, com poucas alterações para atender às normas modernas:
- Incentivo Popular: O Fusca foi um dos principais beneficiados pela lei do carro popular (motor 1.0 ou versões populares com incentivos fiscais). Embora seu motor fosse 1600 (e não 1.0), ele se enquadrou na categoria por ser o "carro popular" por excelência, e recebeu isenções fiscais.
- Sem Complexidade: Sua maior vantagem competitiva era a total ausência de complexidade mecânica. Não havia injeção eletrônica, nem refrigeração líquida, nem correia dentada, o que o tornava incrivelmente simples e barato de manter, ideal para oficinas de beira de estrada.
Fusca Itamar: O Nome da Segunda Chance
Os modelos fabricados entre 1993 e 1996 ficaram conhecidos informalmente como "Fusca Itamar", em referência ao presidente que liderou sua volta à produção na fábrica de São Bernardo do Campo (SP). A produção foi finalmente encerrada em 1996, com uma série especial de despedida.
Curiosidades e Fatos Inéditos da Década
1. Injeção Eletrônica no Último Ano
Embora o charme do Fusca fosse a sua simplicidade, para atender às novas normas de emissões de poluentes do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores) de 1997, a Volkswagen equipou os Fuscas de 1996 com injeção eletrônica de combustível (ainda no motor a ar 1600). Esta foi a única grande modernização mecânica do modelo em sua história brasileira.
2. O Fusca Mais Pesado
3. O Fim da Produção em 1996
O último Fusca brasileiro saiu da linha de montagem em 1996, e a edição final foi batizada de "Série Ouro". Essa série especial vinha com acabamento diferenciado, placa de identificação no painel e itens de conforto aprimorados para a época, como bancos mais anatômicos.
4. O Câmbio e a Direção Clássicas
Ao contrário dos concorrentes que já tinham direções mais leves e engates de câmbio suaves, o Fusca manteve o seu lendário câmbio duro e a direção pesada, características que os puristas adoravam, mas que o diferenciavam drasticamente dos carros modernos recém-lançados.
O Segredo de Suas Vendas
O sucesso de vendas do Fusca na década de 90 não foi impulsionado pela inovação, mas sim por dois fatores únicos:
- Nostalgia e Emoção: O Fusca apelou diretamente à memória afetiva do consumidor, atingindo uma geração que aprendeu a dirigir nele ou teve um na família.
- Imbatível no Custo Total: Sua facilidade e baixíssimo custo de manutenção eram inigualáveis, e a robustez do motor a ar era lenda, vendendo a promessa de que ele "nunca te deixaria na mão", sendo ideal como segundo carro ou para regiões mais isoladas.
7º Chevrolet Chevette o Legado da GM no Brasil
O Chevrolet Chevette nos anos 90 era o último de sua linhagem, representando o capítulo final de um projeto que, embora datado (tinha suas origens nos anos 70), carregava um grande diferencial técnico no mercado de carros pequenos: a tração traseira. Sua presença na década foi curta, mas crucial, pois marcou a despedida honrosa de um guerreiro que se recusava a sair de cena sem tentar lutar contra os modernos hatchbacks de tração dianteira.A Resistência do Projeto Mundial "T-Car"
O Chevette não era um carro qualquer; ele fazia parte do Projeto T-Car da General Motors, uma das primeiras iniciativas de carro global da montadora. Ele era, essencialmente, a versão brasileira do Opel Kadett C europeu, mas, no Brasil, sobreviveu a gerações de seus primos globais.
- Tração Traseira, o Diferencial Técnico: Enquanto Gol, Uno, Escort e Corsa eram todos de tração dianteira (o padrão de compactos), o Chevette manteve a tração traseira. Isso lhe conferia características de dirigibilidade únicas para o segmento, com uma direção mais leve (já que as rodas dianteiras só dirigiam, não tracionavam) e uma melhor distribuição de peso em arrancadas, além de ser o favorito dos entusiastas de drift em pisos molhados, apelando diretamente à diversão ao dirigir.
- O Motor 1.6/S (Sinal de Força): Na virada da década, o Chevette utilizava o motor 1.6/S, uma evolução que, embora mantivesse a concepção original, era conhecido por sua robustez e fácil manutenção, vendendo a imagem de um veículo que aguentava o trabalho pesado.
A Despedida do Sedan de Duas Portas
O Chevette dos anos 90 estava disponível exclusivamente na carroceria sedã de duas portas, já que suas versões hatch e perua (Marajó) haviam sido descontinuadas. O seu fim de linha em 1993 abriu definitivamente o caminho para o sucesso do Corsa, que assumiria o papel de carro pequeno da GM.
Curiosidades e Fatos Inéditos da Década
1. A Aposta Junior: O Chevette 1.0 (1992)
Para se enquadrar na nova lei de incentivo aos carros populares (motores 1.0) de 1992, a Chevrolet lançou o Chevette Junior. Esta foi a primeira e única vez que o Chevette usou um motor de apenas 1.0 litro, que era uma versão reduzida do motor 1.6 original.
- O Dilema do Peso: O Junior foi um carro de baixo custo, mas de desempenho muito criticado. O motor 1.0 tinha que mover um carro com a estrutura pesada e a mecânica dimensionada para o 1.6, resultando em aceleração lenta e consumo decepcionante, o que limitou seu sucesso comercial, sendo rapidamente descontinuado em 1993.
2. O Câmbio "Quatro Marchas" (Em Fim de Linha)
Em um momento em que todos os concorrentes já ofereciam o câmbio de cinco marchas (a "5ª Marcha"), o Chevette, em suas versões mais básicas do início da década, ainda saía de fábrica com a antiga e nostálgica caixa de quatro marchas. O câmbio de cinco marchas, introduzido nos anos 80, era a opção preferencial, mas a versão de quatro marchas era o símbolo do custo mais baixo.
3. O Último Sedã de Tração Traseira da Classe
Antes da chegada de modelos importados de nicho, o Chevette foi o último sedã compacto nacional de tração traseira vendido no país. Essa configuração era típica de carros maiores e de luxo (como o Opala), e fazia do Chevette um mini-muscle car para os mais jovens e um veículo robusto para o trabalho.
4. O Túnel Alto e o Cardã
Uma característica inescapável do Chevette, que o diferenciava de todos os compactos de tração dianteira da época, era a presença de um túnel central elevado na cabine. Este túnel era necessário para acomodar o eixo cardã, o componente que transmitia a força do motor (na frente) para as rodas traseiras. Isso reduzia o espaço no banco traseiro, mas era a assinatura da sua arquitetura mecânica.
O Fim de Uma Era e o Legado de Vendas
Apesar de ter encerrado sua produção em 1993, o Chevette acumulou vendas significativas no início da década por ser, inegavelmente, o carro novo mais barato do mercado por um tempo. Sua mecânica testada por 20 anos, o baixo custo de propriedade (apesar do motor beberrão) e a tradição da marca Chevrolet garantiram um público fiel até o fim. Seu legado foi o de um carro-escola (devido à direção leve) e um veículo de trabalho incansável, que deixou uma legião de fãs saudosistas por ser o último compacto brasileiro a manter a tração traseira, uma característica de dirigibilidade que nenhum de seus sucessores jamais recuperaria.