O setor automotivo brasileiro vive um novo ciclo de recuperação. Após anos de retração provocados pela pandemia e pela crise global de semicondutores, dados recentes da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) indicam que a produção nacional de automóveis e comerciais leves voltou a patamares próximos aos registrados em 2019.
Segundo a entidade, o volume de veículos fabricados no país cresceu 9% nos últimos doze meses, impulsionado especialmente pelas exportações para a América do Sul e pela retomada de programas de incentivo fiscal, como a redução de tributos sobre modelos populares e híbridos.
O aumento da demanda externa tem sido um dos principais vetores dessa retomada. Países como Argentina, Chile e Colômbia voltaram a ampliar pedidos, beneficiando principalmente montadoras instaladas no Sudeste. O Brasil exportou quase 400 mil unidades no acumulado do ano, uma alta de mais de 20% em relação ao mesmo período de 2024.
Com o real mais competitivo e acordos comerciais renovados, as montadoras enxergam margem para ampliar sua participação nos mercados vizinhos. Para a indústria, essa recuperação externa tem sido essencial para compensar a lentidão nas vendas internas.
Crédito caro freia consumo interno
Apesar do cenário otimista, o custo do crédito continua sendo um obstáculo importante. A elevação da taxa Selic nos últimos anos encareceu o financiamento de veículos, reduzindo o poder de compra das famílias. Atualmente, mais de 60% das vendas de carros novos no Brasil envolvem algum tipo de crédito — o que torna a sensibilidade às condições financeiras especialmente alta.
Especialistas avaliam que uma queda sustentada dos juros, combinada à maior estabilidade inflacionária, será fundamental para manter o ritmo de crescimento. “A retomada do setor depende de uma melhora concreta no poder de compra e de um ambiente de crédito mais previsível”, afirma um analista do mercado automotivo.
Políticas públicas e inovação verde
O governo federal tem buscado estimular a indústria por meio de programas de incentivo à produção de veículos sustentáveis, com destaque para o Programa Mover, que prevê benefícios fiscais para empresas que invistam em eletrificação, descarbonização e pesquisa tecnológica.
Essas medidas tendem a acelerar a modernização das linhas de produção e a geração de novos empregos de alta qualificação. Montadoras já anunciam planos de investimento bilionários para adaptar fábricas e lançar modelos híbridos e elétricos produzidos no Brasil até 2026.
Perspectiva para os próximos meses
Com a inflação em desaceleração e expectativa de cortes adicionais na taxa básica de juros, a tendência é que o setor mantenha o ritmo de crescimento moderado até o fim do ano. A combinação entre demanda externa aquecida, incentivo governamental e retomada do crédito tende a consolidar a recuperação da indústria automotiva como um dos motores da economia brasileira em 2025.