O que deu certo e o que deu errado no Salão do Automóvel 2025

A Avant Première do Salão do Automóvel 2025 deixou claro que esta edição seria uma das mais movimentadas e discutidas dos últimos anos. Mesmo antes da abertura oficial ao público, já era possível sentir a atmosfera de disputa entre as marcas, cada uma tentando se posicionar como protagonista em um ambiente onde a atenção do visitante é a moeda mais valiosa. 

Algumas fabricantes apostaram em grandes novidades, outras preferiram trabalhar renovações pontuais e houve ainda aquelas cujo desempenho foi afetado pela estratégia de exposição. No entanto, um ponto se destacou de forma inquestionável: a curiosidade crescente do público brasileiro por carros de origem chinesa, que a cada edição derruba um pouco mais qualquer resquício de rejeição.

A Honda foi um dos nomes mais comentados da noite. A revelação do cupê-esportivo Prelude atraiu um nível de atenção que superou até mesmo o WR-V, que acabou ficando em segundo plano apesar de ser um produto relevante para o mercado nacional. O público simplesmente se aglomerava para conseguir uma foto próxima do cupê, um indicador poderoso do quanto o retorno do nome Prelude desperta nostalgia, status e desejo.

A KIA adotou a estratégia mais agressiva do Salão. Com seis modelos inéditos e dois facelifts expostos lado a lado, seu estande se transformou em um dos mais dinâmicos da mostra. Sportage e Stonic chamaram atenção pelas reestilizações, mas foram eclipsados pelo conjunto de estreias que incluía o Sorento renovado, a picape Tasman com visual controverso, o sedã e o hatch K4 e a família eletrificada composta por Niro, EV3, EV5 e PV5. A impressão geral é de uma marca que tenta consolidar presença e ao mesmo tempo criar novas conversas em diversos segmentos.

A CAOA também colheu bons resultados ao apresentar oficialmente a Changan sob sua estrutura. Os elétricos Avatr 11 e 012 dominaram as câmeras e celulares com seus desenhos futuristas, demonstrando que a marca chega com potencial para competir entre os fabricantes que apostam em tecnologia de ponta. A resposta positiva abre caminho para um possível avanço no mercado, embora tudo dependa da estratégia de preços que será adotada.

O estande da Renault apresentou um fluxo constante de visitantes, impulsionado pelos SUVs Boreal e o esperado Koleos. A picape conceito Niagara, mesmo ainda distante da produção, despertou entusiasmo e reforçou a ideia de que a marca busca reposicionar sua imagem com produtos de personalidade mais forte. O público parecia interessado não apenas na estética, mas na proposta de futuro apresentada pela montadora, projetando expectativa para 2027.

Alguns estandes chamaram atenção, mas não necessariamente pelos carros. A Jeep optou por colocar o Avenger, sua estrela, em uma estrutura elevada cercada por queda-d’água, o que dificultava a aproximação e gerou comentários divididos. Apesar disso, o Convoy acabou se tornando o ponto mais comentado da área. A Leapmotor atraiu olhares pelo design robusto de seus SUVs, mas acabou sendo lembrada principalmente pelo mockup que demonstrava o funcionamento do sistema “ultra-híbrido”, algo que provocou grande curiosidade técnica. 

A RAM exibiu a Dakota, que atraiu olhares, mas rapidamente perdeu espaço para a colossal 3500 Dually, que dominou atenções. A Fiat viveu uma situação curiosa: muitos visitantes esperavam ver o Grande Panda, mas o maior fluxo se formou diante do Pulse Abarth da série especial inspirada em Stranger Things. A experiência imersiva, com o carro balançando e um Demogorgon “perseguindo” pelo retrovisor, virou destaque espontâneo. Já o 600E rendeu comentários divertidos do público, que comparou seu design a personagens animados, enquanto o conceito Dolce Camper apontou para um futuro mais lúdico e versátil da marca.

A MG, mesmo com vários modelos expostos, foi completamente dominada pelo efeito do Cyberster, o conversível elétrico com portas tesoura. Poucos resistiram à tentação de registrar o momento, transformando o modelo em um dos ícones fotográficos do Salão.

Para os amantes de clássicos, o Salão reservou duas paradas obrigatórias. O espaço do CARDE Museu reuniu alguns dos carros mais emblemáticos que já passaram pelas estradas e pistas, como a Ferrari F40, além de raridades nacionais e importadas como Hofstetter, STV Uirapuru, VW SP2, Dodge Charger RT 71 e Jaguar XJ220. Já no Dream Car, a sensação foi de pura nostalgia embalada por máquinas lendárias: o Bugatti EB110, o Plymouth Roadrunner, o Dodge Daytona, o Batmóvel de 1989 e o sempre magnético DeLorean.

Algumas marcas tiveram presença discreta, mas não irrelevante. A Toyota apareceu com o GR Yaris, a BYD com o Sealion 7 e a Geely com os modelos EX2 e EX5 EM-i. Todos receberam atenção, mas sem grandes aglomerações. A Lecar surpreendeu positivamente pelo movimento no estande, embora sua posição escondida e o visual pouco iluminado tenham prejudicado a visibilidade da marca. Ainda assim, os mockups exibidos despertaram curiosidade e mostraram que há um nicho de interesse pelo projeto brasileiro.

No lado das marcas com menor destaque, a CAOA Chery apresentou o facelift do Tiggo 5x e o novo Tiggo 9, mas registrou apenas um movimento moderado. A Citroën, mesmo com elogios ao belo C5 Aircross e expectativa pelo Ami Point, não conseguiu lotar o estande durante a Avant Première. Na Peugeot, o conceito Inception rouba a atenção logo de longe, mas o 3008 GT teve um público menor do que o previsto. O 208 GTI, colocado mais ao fundo, acabou despertando mais interesse do que o planejamento da marca talvez indicasse. Já a Mitsubishi praticamente passou despercebida por não apresentar novidades relevantes, ficando ofuscada pelas concorrentes diretas que apostaram pesado em experiências visuais e interativas.

A abertura antecipada do Salão demonstrou que o público procura não apenas carros, mas experiências, conceitos, interação e histórias. E, entre acertos e equívocos, ficou nítido que as marcas que melhor conseguem transformar seus estandes em ambientes vivos são justamente as que conquistam a atenção em um mercado que, mais do que nunca, é movido pela percepção e pela emoção.

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