Muito antes dessa conversa toda sobre carro elétrico, Renault e Ford já tinham dividido projeto, engenharia e ideia. E foi aqui no Brasil que essa parceria deixou uma das marcas mais fortes da nossa história automotiva: o Ford Corcel. Muita gente não sabe, mas ele tinha — e muito — sangue francês.
Recentemente, as duas montadoras anunciaram uma nova aliança global para desenvolver carros elétricos compactos a partir de 2028, focados no mercado europeu. A ideia é enfrentar o avanço das marcas chinesas com modelos mais baratos, usando uma plataforma elétrica criada pela Ampere, divisão de elétricos do Grupo Renault. Mas essa história de união não começou agora.
Uma parceria que vem dos anos 50
No Brasil, essa aproximação começou ainda nos anos 1950, quando a Willys-Overland produzia carros da Renault sob licença. Em 1958, saiu das linhas nacionais o Renault Dauphine, um compacto de quatro portas que caiu no gosto das famílias brasileiras que estavam comprando o primeiro carro.
Dessa fase também surgiram o Willys Interlagos, em 1961, e o Renault Gordini, em 1962 — versões mais esportivas e potentes do Dauphine, voltadas ao público jovem. Até aí, era Renault com Willys. A Ford ainda observava de fora.
A Ford assume e herda o projeto
Tudo mudou em 1967, quando a Ford do Brasil comprou a Willys-Overland. Com a aquisição, a marca americana herdou projetos em andamento, incluindo um carro já bem avançado, baseado no Renault 12. Esse estudo seria o embrião do Corcel.
A Ford entrou ajustando o visual, os acabamentos e a identidade do modelo, mas manteve a base técnica francesa. Motor, câmbio, suspensão, direção e freios vinham diretamente da engenharia da Renault.
O nascimento do Corcel
Em 1968, no Salão do Automóvel, o público brasileiro conheceu o Ford Corcel. Apesar do nome e do emblema Ford, o carro era, por dentro, praticamente um Renault. A mistura deu certo. Muito certo.
O Corcel virou família: Belina, Del Rey e Pampa vieram depois, e a linhagem só saiu de cena de vez nos anos 1990. Um sucesso construído com receita simples e tradicional: boa engenharia, adaptação ao mercado local e parceria bem feita.
A história dando a volta completa
Agora, mais de 50 anos depois, Renault e Ford voltam a caminhar juntas. A lógica é parecida: plataforma francesa, identidade Ford, só que desta vez no mundo dos elétricos. Um verdadeiro déjà-vu automobilístico.
O passado mostra que essa fórmula já funcionou. Resta saber se, assim como o Corcel, os novos elétricos também vão deixar saudade lá na frente. História, quando bem contada, costuma se repetir.