Uma campanha publicitária da Toyota na Grécia ganhou repercussão internacional ao retratar a fuga de uma mulher vítima de violência doméstica em um Ford Fiesta, modelo de uma montadora concorrente.
Intitulado Escape Vehicle (“Veículo de Escape”), a publicidade busca mostrar o carro como instrumento de sobrevivência, independente da marca ou modelo.
Apenas no encerramento surge a assinatura da Toyota, acompanhada da frase: “Não importa o carro que você dirige. Contanto que você vá embora”.
A escolha por um veículo da Ford faz parte da estratégia narrativa. Ao gerar confusão inicial no espectador, a campanha reforça a ideia de que, em situações de risco, a marca do carro é irrelevante diante da necessidade de escapar de uma relação abusiva.
Publicidade automotiva fora do discurso tradicional
O Ford Fiesta Azul é usado claramente nas imagens com a logo da empresa estadunidense mostrada de forma explícita. É, de certa forma, o rompimento de uma convenção histórica da publicidade automotiva.
As propagandas do setor tem, como uma espécie de convenção histórica, exaltar a própria marca em atributos como desempenho, tecnologia ou status. Rivais só aparecem em easter-eggs para serem criticados (o famoso "shade").
De acordo com a ONU Mulheres, cerca de 60% dos feminicídios no mundo são cometidos por parceiros, ex-companheiros ou familiares. A cada 10 minutos, uma mulher é assassinada por alguém próximo.
No Brasil, os dados são ainda mais graves. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025 indica que aproximadamente 80% das cerca de 1,5 mil mulheres mortas em 2024 foram vítimas de pessoas do círculo íntimo.
A dependência econômica, o medo da denúncia e a fragilidade das redes de proteção ajudam a explicar por que muitas vítimas retornam ao convívio com o agressor.
Manifestações no Brasil cobram proteção efetiva
A discussão levantada pela campanha ocorre em meio a uma onda de mobilizações no Brasil.
No domingo (07), o Movimento Nacional Levante Mulheres Vivas realizou atos simultâneos em diversas cidades para denunciar o aumento dos casos de feminicídio e cobrar políticas públicas mais eficazes.
As manifestações ocorreram em capitais como São Paulo, no vão do Masp, e no Rio de Janeiro, no Posto 5, em Copacabana, além de cidades como Curitiba, Belo Horizonte, Manaus e Salvador.
Em situações de risco iminente, a Polícia Militar deve ser acionada pelo 190.
Registrar ocorrência, solicitar medidas protetivas e buscar apoio psicológico e jurídico são passos fundamentais para interromper o ciclo de violência.
Organizações da sociedade civil e serviços públicos oferecem atendimento gratuito e auxiliam mulheres a reconstruir autonomia e reduzir a dependência do agressor.
