De acordo com informações publicadas pelo jornal alemão Bild, a maioria dos casos está relacionada a ausências não justificadas, um problema que tem gerado impactos tanto na produção quanto na organização das equipes. Apenas na Alemanha, país-sede da montadora, já foram registradas mais de 300 demissões somente em 2025, o que indica que o foco principal da política disciplinar está voltado para as fábricas locais.
A mensagem da Volkswagen: tolerância zero
O chefe de Direito Trabalhista do Grupo VW, Volker Fucks, foi categórico ao afirmar que os empregados têm responsabilidades claras e não podem descumpri-las sem consequências.
“Qualquer pessoa que não comparecer ao trabalho sem justificativa está violando sua obrigação de desempenho”, declarou o executivo, em comunicado à imprensa.
A Volkswagen também deixou explícito que os trabalhadores devem esperar uma fiscalização ainda mais rígida daqui em diante. Em aviso interno, a montadora destacou que ausências repetidas sem justificativa passarão a ser punidas com demissão imediata, sem etapas intermediárias de advertência.
Transparência após o “escândalo do diesel”
A divulgação dessas estatísticas não é um ato isolado. Desde que veio à tona o “Dieselgate”, em 2015 — quando a empresa foi flagrada manipulando testes de emissões em veículos a diesel por meio de software ilegal — a Volkswagen vem tentando reconstruir sua imagem. A publicação de dados internos sobre demissões e advertências é vista como parte de um esforço para mostrar transparência e endurecimento contra más condutas, não apenas de executivos, mas também entre funcionários comuns.
Especialistas em mercado automotivo observam que, ao trazer esses números ao público, a empresa envia um recado em duas direções. De um lado, reafirma ao mercado e a investidores que erros internos não serão mais tolerados. De outro, busca disciplinar sua força de trabalho, mostrando que regras e comprometimento são prioridades estratégicas para garantir a competitividade global.
Impacto proporcionalmente pequeno, mas de peso simbólico
Com mais de 560 mil funcionários espalhados pelo mundo, os desligamentos e advertências ainda representam uma fração mínima da força de trabalho: apenas 0,5% do total. No entanto, especialistas em gestão afirmam que o peso simbólico dessas medidas é muito maior do que os números sugerem.
Segundo a consultora de Recursos Humanos e especialista em governança corporativa, Klara Hoffmann, a mensagem da VW é clara:
“A empresa prefere perder alguns milhares de colaboradores a manter um ambiente onde regras internas não são respeitadas. Essa postura está alinhada ao esforço de reestruturação e busca por eficiência em um mercado cada vez mais competitivo.”
O pano de fundo: lucros em queda e cortes anunciados
As medidas de disciplina vêm em um momento particularmente delicado para a Volkswagen. A montadora reportou uma queda de 30% nos lucros globais no primeiro semestre de 2025, um resultado que acendeu alertas dentro e fora da companhia. A pressão por eficiência aumentou, ao mesmo tempo em que a transição para veículos elétricos exige investimentos bilionários em pesquisa, desenvolvimento e adaptação de fábricas.
Somado a isso, a montadora já anunciou que planeja eliminar cerca de 35 mil postos de trabalho na Alemanha até 2030. Esse plano de cortes massivos está diretamente relacionado à automação das linhas de montagem e à mudança no perfil de produção exigido pela eletrificação da frota.
Para o economista e analista do setor automotivo Michael Kruger, os desligamentos recentes por violações internas também podem ser lidos como um ensaio da reestruturação maior que está por vir.
“A Volkswagen precisa mostrar disciplina e organização antes de promover mudanças tão profundas. É um recado tanto para funcionários quanto para o mercado financeiro: a empresa está preparada para tomar decisões difíceis.”
A percepção dos trabalhadores
Entre os sindicatos alemães, que tradicionalmente têm forte influência nas decisões trabalhistas da Volkswagen, a divulgação pública dessas medidas gerou certo desconforto. Líderes sindicais questionam se a política de demissões rápidas pode ser usada de forma excessiva para acelerar cortes de pessoal sem negociação coletiva.
Ainda assim, mesmo críticos reconhecem que a prática de faltas injustificadas recorrentes compromete a produtividade e gera prejuízos. “A questão não é punir, mas sim dialogar para evitar que esses problemas se tornem comuns”, afirmou um representante do sindicato IG Metall em entrevista à imprensa local.
A visão de futuro
O endurecimento interno da Volkswagen precisa ser analisado dentro de um cenário mais amplo. O setor automotivo vive sua maior transformação em décadas, com a corrida pela eletrificação, o desenvolvimento de tecnologias de condução autônoma e a pressão por sustentabilidade. Nesse contexto, margens de erro — seja em gestão, finanças ou conduta dos funcionários — tornam-se cada vez mais estreitas.
Ao divulgar demissões e advertências, a empresa não apenas mostra sua disposição em manter ordem interna, mas também busca sinalizar ao mercado que está comprometida com a eficiência, a transparência e a inovação, mesmo em meio a desafios históricos.
Para a Volkswagen, cada movimento agora é estratégico. Do ponto de vista financeiro, a queda de lucros pressiona por cortes. Do ponto de vista institucional, o passado ainda cobra a conta do “escândalo do diesel”. E, do ponto de vista tecnológico, a corrida por carros elétricos e sustentáveis exige mais disciplina e menos espaço para erros.