BYD inaugura fábrica na Bahia e inicia montagem de carros elétricos

 

Fábrica da BYD em Camaçari (BA) — Foto: Divulgação

A BYD acaba de inaugurar sua fábrica em Camaçari (BA) nesta quinta-feira dia 9, e dará início à montagem dos carros híbridos e elétricos nacionais nesta quinta-feira (9). A cerimônia contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), de lideranças globais da marca e de outras autoridades governamentais.

Ainda assim, a BYD classifica essa fase como “teste” — os veículos nessa etapa não poderão ser comercializados até que todas as licenças e certificações sejam concluídas. 

O evento de inauguração contou com a presença de autoridades estaduais e internacionais, como o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, e executivos da BYD Brasil e global. 

Estrutura, investimento e capacidade produtiva


O complexo ocupa cerca de 4,5 a 4,6 milhões de metros quadrados no Polo Petroquímico de Camaçari, nas instalações da antiga Ford. 

O investimento inicial foi estimado em R$ 5,5 bilhões, mas ao longo do projeto pode chegar a R$ 6,5 bilhões. 

Na fase inicial, a unidade terá capacidade de montar até 150 mil veículos por ano. Em fases posteriores, esse número pode dobrar para 300 mil/ano. 


A BYD planeja também expandir o complexo com fábricas de chassis de ônibus elétricos e unidades para beneficiamento de lítio e ferro-fosfato. 


Do regime SKD ao conteúdo nacional


A BYD iniciou a produção local usando o regime SKD (Semi Knock-Down), em que os veículos chegam parcialmente pré-montados (com carroceria pintada, por exemplo) e recebem montagem final no Brasil. 

O plano é evoluir gradualmente para regimes com maior nacionalização (CKD, produção completa) e aumentar a participação de fornecedores brasileiros no processo de montagem. 

Até agora, 106 empresas brasileiras já foram homologadas para fornecer peças à fábrica da BYD, com destaque para a Continental Pneus, que já atua em Camaçari. 

 A BYD também desenvolve um motor híbrido flex 1.5 DM-i, pensado para rodar com gasolina e etanol, adaptado à matriz energética brasileira. 


Empregos, cronograma e desafios

Estima-se que o projeto gere 10 mil empregos diretos e indiretos já nos primeiros anos, podendo chegar a 20 mil quando estiver em plena operação. 

Já mais de 1.000 funcionários atuam na linha de montagem experimental, e a BYD anunciou abertura de cerca de 3.000 novas vagas em várias especialidades (engenharia, logística, operação etc.). 

A previsão oficial da BYD é que a fábrica esteja “totalmente operacional” até dezembro de 2026. Porém, houve atrasos no cronograma em razão de uma investigação trabalhista envolvendo denúncias de condições análogas à escravidão em obras da fábrica, além de dificuldades climáticas. 

Por causa desses contratempos, a BYD revisou o início da produção plena para meados de 2026, mantendo cronograma de expansão até 2026. 


Controvérsias e críticas

A BYD enfrentou acusações graves durante a construção da fábrica:

Em dezembro de 2024, fiscais do Ministério do Trabalho resgataram cerca de 163 trabalhadores chineses que estavam em condições degradantes, segundo denúncias de trabalho análogo à escravidão. 

A empresa rompeu contrato com a empreiteira Jinjiang Construction, apontada como responsável pelas irregularidades. 

Também houve pedido ao governo para redução de imposto de importação nos regimes SKD/CKD, o que gerou críticas de atrasar a nacionalização da produção e privilegiar importações de kits.

Alguns representantes da indústria nacional mostram cautela, dizendo que até agora poucas ações concretas foram tomadas para movimentar o parque local de autopeças. 


O que muda para o Brasil (e para a Bahia)

A inauguração da fábrica marca um divisor de águas para a mobilidade elétrica no Brasil — pela primeira vez há produção local em escala para modelos elétricos e híbridos.

Em um mercado ainda dependente de importações caras e tributações elevadas, a fábrica pode abaratar custos e tornar automóveis eletrificados mais competitivos. A escolha de Camaçari vem com simbolismo: reocupação de terreno industrial abandonado, aproveitamento de infraestrutura fabril pré-existente e oportunidade de revitalização regional.

Para a Bahia, representa geração de empregos, demanda por serviços locais, atração de fornecedores e incremento na cadeia produtiva automotiva.

Mas, para que isso se concretize de forma sustentável, será essencial que mais componentes sejam nacionalizados, novas empresas de autopeças sejam atraídas e que as práticas trabalhistas sigam padrões rigorosos.

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