Coalizão chinesa domina o Salão e expõe virada no setor

O Salão do Automóvel de 2025 não apenas mostrou novidades nos estandes do Distrito Anhembi. Exibiu um novo mapa de poder na indústria. Pela primeira vez, o protagonismo ficou nas mãos das marcas chinesas e de suas alianças com nomes tradicionais, enquanto algumas das montadoras que construíram a história do evento optaram por ficar de fora.

O movimento revelou uma verdade desconfortável para o setor: a velocidade da transformação global está favorecendo quem domina eletrificação, cadeia de baterias e capacidade de investimento. E esse grupo hoje tem nome, origem e estratégia muito claras.

A ascensão chinesa não é acaso

A China passou duas décadas construindo liderança em baterias, semicondutores automotivos e plataformas modulares elétricas. Investiu pesado em pesquisa, subsidiou montadoras nacionais, atraiu engenheiros globais e aperfeiçoou sua escala industrial.

Esse esforço gerou players de alcance mundial: BYD, SAIC, GWM, Changan,  que agora competem em pé de igualdade com gigantes centenárias. O Salão 2025 foi a vitrine dessa virada no Brasil.

MG, Denza e Caoa Changan: três estratégias diferentes, um mesmo objetivo

MG Motor – a tradição inglesa turbinada pela eficiência chinesa

Fundada em 1924 no Reino Unido, a MG era símbolo do automobilismo esportivo britânico. Hoje, sob controle da SAIC, a marca combina design europeu e engenharia chinesa, criando produtos competitivos com custos menores.

Esse hibridismo cultural a coloca numa posição única: uma marca com história centenária renascida com o dinheiro e tecnologia chineses.

Denza – a junção do luxo alemão com a tecnologia da BYD

A parceria Mercedes-Benz + BYD não é mero acordo comercial. A marca alemã buscava eletrificação ágil; a BYD buscava reputação premium. A Denza foi o caminho.

A união cria eficiência logística e industrial, permitindo trazer modelos competitivos e até fabricar no país.

Essas três frentes explicam por que a coalizão chinesa ocupou espaço que antes era dividido por dezenas de montadoras.

Por que Volkswagen, GM, Nissan, Ford e Audi ficaram de fora

A ausência das tradicionais não é simples economia de custos. É sintoma de um choque tectônico na indústria.

1. A transição elétrica atropelou o planejamento ocidental: marcas como Volkswagen e GM anunciaram metas agressivas de eletrificação, mas enfrentaram dificuldades práticas: baterias caras, plataformas atrasadas, padronização global complexa e pressão por lucro. Enquanto isso, BYD, SAIC e Changan já dominam toda a cadeia com mineração, baterias, semicondutores, software, motores, plataformas.

Participar do Salão significaria dividir palco com quem hoje está dois passos à frente.

2. A crise global muda prioridades: com margens pressionadas, as montadoras priorizam eventos próprios, lançamentos online e experiências segmentadas. Feiras tradicionais perderam relevância porque já não são instrumentos eficientes de ROI. Montadoras preferem investir em infraestrutura de software, eletrificação e inteligência artificial automotiva, áreas que consomem bilhões.

3. Ausência estratégica para evitar comparações diretas: para montadoras que ainda não têm elétricos competitivos no Brasil, aparecer ao lado de sedãs, SUVs e esportivos chineses de última geração seria arriscado. A ausência é, em parte, uma escolha para evitar uma disputa em que, neste momento, perderiam em preço, autonomia, conectividade e tecnologia.

A nova ordem do Salão: menos tradição, mais ruptura

Com as tradicionais fora, o Salão se tornou um retrato fiel da indústria como ela será nos próximos anos: tecnológica, eletrificada, conectada e liderada por quem entrega inovação com escala e velocidade.

O público percebeu isso. A narrativa dominante deixou de ser nostalgia e passou a ser mobilidade do futuro. Isso reposiciona o evento e marca a entrada definitiva das chinesas em um território que antes era só dos europeus e japoneses.

O que isso significa para o mercado brasileiro

O Brasil vira laboratório estratégico para a expansão global das montadoras chinesas.  Com rede de concessionárias crescendo, presença industrial aumentando e aceitação do público melhorando, a China passa a disputar diretamente espaço antes monopolizado por gigantes tradicionais.

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